Frustração: é mesmo necessária?

 

Este mês, iniciamos uma sequência de textos que nos ajudarão a entender melhor a relação da criança com seu corpo e o movimento, com seu fluxo de energia vital, com seu processo de autorregulação, e aspectos pontuais para a construção da sua personalidade.  Vamos entender um pouco mais sobre como a criança pode estabelecer relações mais equilibradas consigo, com a família, a escola e outros grupos com os quais conviva.

Contrariamente ao que muitos acreditam, não é apenas a mente que assimila conhecimentos. Afetividade, motricidade e cognição estão permanentemente envolvidas na aprendizagem. As tendências naturais para o movimento e para sua expressão são, desde os primeiros anos, prejudicadas pela prioridade dada à formação intelectual em detrimento do desenvolvimento corporal. E assim, não há uma harmonização entre inteligência, sensações e necessidades básicas, criando-se uma desordem psicossomática que se manifesta cada vez com maior frequência e que pode se traduzir por tensões, tiques, perturbações respiratórias, dificuldades de aprendizagem, perda da espontaneidade e ansiedade.

Para maior compreensão do significado da visão da totalidade corpo-mente na educação da criança, vale conhecer um pouquinho da teoria de Wilhelm Reich e suas contribuições no campo da educação e para a Bioexpressão, uma proposta psicomotora e pedagógica com foco na visão integrativa do ser humano.

A teoria reichiana e a educação da criança

Wilhelm Reich foi um dos primeiros a sistematizar a relação entre o corpo e o psiquismo em inícios do século passado. Postulou a unidade funcional entre o psíquico e o somático, concluindo que a mesma energia alimenta estes dois aspectos, gerando a relação e a mútua influência entre atitudes corporais e atitudes psíquicas. Corpo e mente são uma totalidade e interagem todo o tempo. Quando se trabalha o corpo, se trabalha o ser como um todo.

Segundo Reich, apesar de todo anseio natural pela liberdade e pela vivacidade, as crianças contêm seus impulsos quando não há um ambiente natural propício ao desenvolvimento de sua vitalidade sadia. Muitas vezes, a criança sofre pressões para assumir atitudes que contrariam necessidades essenciais que acabam por fazê-la assumir uma atitude rígida e não-natural. Por exemplo: uma criança muda de posição inúmeras vezes ao realizar uma atividade; inclina o corpo, o movimenta de acordo com o que realiza com as mãos, se alonga, se dobra, senta sobre os pés, se levanta; se agita mais quando está alegre ou narra uma aventura, enfim, pensa, sente e age com todo o corpo. Como exigir que fique sentado imóvel durante muito tempo na escola? Isso contraria uma dessas necessidades básicas: o movimento. Vale destacar que o tempo excessivo diante das telas da TV, do celular, tablet ou computador, embora atraiam muito a criança, também trazem malefícios ao desenvolvimento corporal, uma vez que ficam “hipnotizadas” pelas imagens, imóveis, deixando de desenvolver relações espaciais mais equilibradas.

Quando o educador despreza potencialidades infantis, vendo suas necessidades de contato, movimento e brincadeira, apenas como fonte de transgressão ou impedimentos para a aprendizagem, corre-se o risco de realmente se queimarem etapas do desenvolvimento da criança, impedindo-as de desfrutarem a infância em sua plenitude. Para a criança da educação infantil e séries iniciais torna-se evidente a necessidade do trabalho intelectual conectado ao trabalho motor, lúdico e expressivo para que a criança atinja patamares mais elevados no processo de aprendizagem.

As couraças musculares e de caráter

Pais e professores atuam sobre a criança desde os primeiros anos da infância contribuindo, mesmo que sem intenção, para o seu encouraçamento, através da exigência de um aprendizado do autocontrole que vai além do apropriado para a criança: “Uma criança boazinha senta-se quieta”; “Ficar com raiva da mãe é pecado”; “Homem não chora”; “Coma mesmo sem gostar”; “Engula o choro!”, “Não pode se sujar!”. Como analisa Reich, frases como estas, que bem caracterizam um viés da educação, são, de início, rejeitadas pelas crianças; aos poucos vão sendo relutantemente aceitas, assimiladas e, por fim, exercitadas.  Já ouvi narrativas de estagiárias sobre professoras que serviam pratos muito cheios para alunos e os obrigavam a comer tudo, a comida se misturando às lágrimas. Também de professoras que não aceitavam a criatividade e curiosidade tão naturais da criança, obrigando-as a copiar modelos ou calar perguntas (Felizmente, isso não era a regra; havia situações muito positivas).

A criança tem a “espinha da alma” dobrada, diz Reich; suas vontades não são consideradas, a vida interior e os sonhos são abafados, a espontaneidade contida, a expressão amordaçada. E a criatividade também. Chega um momento em que algumas crenças sem fundamento são assumidas e a criança que se tornou adulto repete para seu filho: “Homem não chora!”. E em momentos de intensa dor não consegue sentir o alívio da dor através das lágrimas devido às couraças criadas.

As couraças musculares, marcas que se gravam no corpo, foram assim denominadas por Reich por representarem um mecanismo de defesa, um escudo de proteção, que surge da necessidade de o ser humano suportar os golpes recebidos ao longo da vida, desde a infância. São um enrijecimento crônico dos músculos que, para proteger o indivíduo de experiências traumatizantes e que podem provocar desequilíbrios, bloqueiam a energia corporal, contendo as emoções. As emoções fortemente sentidas e mal trabalhadas geram tensões que se registram em alguma parte do corpo, bloqueando o fluxo normal das emoções. Os bloqueios criados fazem com que a pessoa tenha dificuldade (ou impossibilidade) de expressar sentimentos comuns como raiva, medo ou prazer. As couraças musculares impedem as crianças (e os futuros adultos) de sentirem seu corpo, de o respeitarem e de aprenderem a ouvi-lo, pois são criados padrões automáticos e inconscientes de resposta.

Não se trata, de forma alguma, de a criança deixar de ser orientada e corrigida, de ter limites impostos, isso faz parte do processo de educar que pais e professores têm a seu cargo, trata-se de ser necessário que suas dificuldades e especificidades, ou seja, de que sua forma de ser e necessidades sejam respeitadas. Uns são mais lentos, outros mais rápidos, há os extrovertidos e os introvertidos, os mais sensíveis ou menos, os mais quietos e os mais agitados, enfim, cada criança tem sua individualidade, sua forma de sentir, de pensar e de agir.

É importante que os sentimentos da criança sejam reconhecidos; que ela seja estimulada a vencer desafios e superar dificuldades, mas sem críticas e castigos duros se ainda não conseguiu chegar lá; elogios pontuais são sempre bem vindos, e os erros podem ser mostrados com amorosidade. E, também, dar-lhes autonomia de escolhas sempre que possível e quando não prejudicar a disciplina necessária. É claro que não podemos deixar que tenha atitudes como fazer birra, se não tem um desejo atendido, pois, lidar com a frustração faz parte do crescimento, mas podemos sim admitir que ela tem o direito de ficar zangada e de dizer ou demonstrar isso, mas não podemos permitir que morda a coleguinha ou chute a professora, que jogue objetos ou grite descontroladamente. As emoções precisam ser trabalhadas e educadas também.

O que basicamente diferencia a criança saudável daquela que apresenta bloqueios energéticos, isto é, os encouraçamentos, é a forma como lidam com as situações; a criança saudável, ao enfrentar circunstâncias difíceis, sai sem maiores danos da condição problemática, ao passo que a que já apresenta encouraçamentos permanece na situação patológica. Problemas e bloqueios vão sempre existir, entretanto, pais e educadores podem contribuir para minimizá-los, para evitar que se cronifiquem e para que as crianças aprendam a lidar com suas emoções.

Outro ponto a considerar, é que tentando evitar a dor das emoções indesejáveis ou insuportáveis, nos fechamos na insensibilidade, nos fechando, também, para sentimentos prazerosos, para o afeto; acabamos por nos fechar ao outro e à própria vida. O isolamento cria novos hábitos, imperceptivelmente, a espontaneidade e a receptividade vão-se perdendo aos poucos e cada vez se torna mais árduo ultrapassar as barreiras criadas, fazer “contato”. O diálogo vai-se tornando cada vez mais difícil.

Para Reich, a frustração desde que em graus toleráveis faz parte do processo educacional.  A criança não pode ter tudo o que quer, precisa também saber ouvir nãos. Também nós, adultos, precisamos desta aprendizagem. Afinal, a vida não atende a todos os nossos desejos, e maturidade emocional é saber aceitar isso e ter os meios para seguir em frente. Esta é a base da resiliência.

Entretanto, quando o ambiente escolar e/ou familiar é cercado por uma atmosfera de frustração constante, forma-se na criança um caráter inibido e sem autonomia, o que é prejudicial para seu desenvolvimento. Entretanto, se o educador não tem autoridade, assumindo uma atitude muito permissiva, criam-se crianças sem limites. E todos nós sabemos da importância de estabelecer limites para a vida social, familiar e escolar. Relações interpessoais saudáveis exigem que existam normas de convivência.

De acordo com Reich, uma prática educativa saudável seria aquela em que o professor e/ou os pais colocam limites, algumas regras, que até podem causar descontentamentos, mas que ajudam no desenvolvimento infantil, sem, no entanto, causar inibição através de repressões, críticas e censuras excessivas, o que gera o encouraçamento. Educar com amor e autoridade ao mesmo tempo seria a medida ideal para a formação dos nossos pequenos.

Hoje, ficamos por aqui. No próximo artigo, vamos pensar possibilidades para evitar que as couraças se cronifiquem e analisar alguns pontos que aproximam Wallon, um dos grandes estudiosos da criança, da teoria reichiana.

Dúvidas, sugestões ou comentários? Deixe seu recadinho que responderei logo que possível.

Grande abraço e até lá

Qual o lugar do corpo na escola?

Será sentado atrás de carteiras enfileiradas? Será que conter a vivacidade da criança é o mais indicado para seu desenvolvimento? Como permitir que a criança possa, desde pequena, desenvolver seu potencial expressivo?

O ser humano para seu desenvolvimento mais equilibrado precisa ser considerado como alguém que pensa, sente, se movimenta, e está vinculado a seu meio sociocultural, o que significa ser considerado em sua corporeidade. O movimento é visto, na maioria das vezes, como se atrapalhasse o desenvolvimento e a aprendizagem da criança, ideia totalmente falsa, mais que isso, uma ideia absurda, uma vez que o movimento é condição fundamental para a construção do conhecimento pela criança, no processo de conhecer a si mesma e se diferenciar do outro, enfim, de sua constituição como sujeito.

O desenvolvimento da criança implica consciência e conhecimento progressivo e cada vez mais profundo do próprio corpo. A criança é o seu corpo e a criança é movimento. Até que a criança tenha adquirido a linguagem verbal de forma mais ampla, é a motricidade o que lhe permite atender suas necessidades básicas, expressar emoções e criar relações. E é desta forma que ela se desenvolve e constrói aos poucos a sua personalidade. A motricidade é o que permite a interação entre o seu movimento interno e o externo, é o que permite que a criança estabeleça relações com seu grupo social (família, escola, amiguinhos da pracinha, da natação, etc).

É através do corpo, do movimento e dos sentidos que a criança percebe o mundo que a cerca, com ele interage e o transforma. O que é experienciado é imediatamente assimilado, o que é vivido é mais facilmente apreendido e aprendido. No entanto, à criança tem sido, com frequência, imposta uma imobilidade que contraria suas necessidades fundamentais, e atividades pouco ou nada significativas para sua experiência pessoal que, muitas vezes, seguem rotinas rígidas e repetitivas que não possibilitam o desenvolvimento de sua autonomia e expressividade.

Os espaços são inadequados, especialmente na educação infantil, em geral, ocupados por mesinhas e cadeiras, que tolhem as atividades físicas da criança, reduzem seu campo de experiências e reprimem a expressão natural de suas emoções. Se lhe são oferecidos movimentos reduzidos e rígidos, repetitivos e imitados, suas sensações e sua vivacidade vão sendo entorpecidas, o que tenderá a gerar desajeitamento e desconfiança, que poderão permanecer na juventude e idade adulta. O psicopedagogo e psicomotricista Vítor da Fonseca observa que muitas “epidemias escolares” como dislexias, disgrafias e discalculias põem em questão os métodos de aprendizagem, afirmando que mobilidade e inteligência são inseparáveis, uma vez que o pensamento se estrutura por meio do movimento.

Há anos atrás, fazia parte da infância brincar na rua, correr, ter contato com espaços amplos. Hoje, infelizmente, por motivos incontestáveis como a insegurança, isso não acontece da mesma forma, o que é mais uma razão para estarmos atentos a esse aspecto. O corpo tem permanecido muitas horas imóvel diante das telas de TV, computadores e celulares, questão esta que não cabe aprofundar neste momento, mas que merece atenção redobrada.

As muitas pesquisas que desenvolvi e orientei de mestrado, doutorado, iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso (TCC) e outras tantas que li, além do acompanhamento de estágios, mostram que o controle corporal é muito mais comum do que imaginamos, e que é preciso insistir nessa questão, pois as crianças de hoje serão os adultos de amanhã. E é mais que desejável que se tornem adultos que, além de usarem a cabeça, saibam lidar com suas emoções e com seu corpo, enfim, que sejam pessoas felizes consigo mesmas e que saibam se relacionar adequadamente, o que percebemos ser uma carência do nosso mundo.

A escola é um espaço privilegiado para o movimento, as relações e o desenvolvimento. Existem muitas possibilidades de movimento e podemos escolher o que mais se adeque ao local e ao momento. E movimento não significa necessariamente desordem ou indisciplina, podem ser jogos cantados, representações, brincadeiras e muitas outras possibilidades. Mais adiante, vamos falar um pouco mais do significado e da importância de considerar a corporeidade na escola e como esta visão integrativa ajuda nossos pequenos a se tornarem pessoas mais inteiras.

Nosso blog se transformou em livro…

Fotos retiradas da web.

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Tempo de ser criança e ser feliz – o movimento

O tempo da infância, mesmo o das crianças pequenas, no momento em que vivemos, tem se caracterizado por muitas pressões e cobranças, considerando-se que há uma grande preocupação dos educadores – tanto na família quanto na escola, em preparar a criança para que tenha sucesso no futuro, sendo bem sucedida no mercado de trabalho. E o presente? É vivido e sentido com a intensidade que merece?

Marcha soldadoRespeitar o tempo de ser criança de nossos pequenos é um dos nossos grandes desafios em um mundo corrido e dominado pela tecnologia. Este cuidado é fundamental se quisermos preservar uma educação humanizadora. O processo de desenvolvimento da criança não pode ser acelerado ou ter etapas suprimidas. E cada uma tem seu próprio tempo, suas próprias características.

As atividades livres, as brincadeiras, as expressões espontâneas da infância acabam perdendo seu espaço-tempo. Em nome de um futuro mais promissor, o aqui-agora é deixado de lado, esmagado por muitas obrigações que sobrecarregam as agendas infantis e atropelam esta fase tão importante da vida que deixa marcas pela existência afora.

A primeira infância é um tempo em que há processos de desenvolvimento intensos e significativos como o amadurecimento cerebral, o desenvolvimento da linguagem, das emoções, da capacidade de aprender, das relações sociais, … E a criança necessita interagir com os desafios e possibilidades do mundo que a cerca, da sua realidade e, não, passar horas em contato com o mundo virtual, paralisada à frente da tela da tv, do celular ou do computador.

Quanto melhores forem as condições de desenvolvimento nessa etapa, mais chances terá a criança de se tornar um jovem e, posteriormente, um adulto mais equilibrado, com maiores possibilidades de desenvolver seus potenciais. A infância é um tempo de ser criança.

A criança e o movimento, expressão de vida

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É essencial que pais e professores da educação infantil possibilitem às crianças oportunidades de se movimentarem de forma espontânea, mais livre e que estimulem os cinco sentidos: audição, visão, paladar, tato e olfato de forma a experimentarem novas sensações, fazerem descobertas, atuarem no mundo que as envolve, de forma a serem mobilizadas corporalmente para a aprendizagem.

O movimento é muito mais que um deslocar-se no espaço ou uma forma de comunicação. Henri Wallon, conhecido estudioso da criança, aponta que o ato motor tem um importante papel na afetividade e na cognição infantil. Por volta do primeiro ano, com os primeiros passos, a criança explora de forma mais intensa o mundo à sua volta. Antes mesmo de falar, os gestos intencionais já nos mostram os desejos e respostas da criança: apontando o que quer, nos levando até o que deseja, interagindo conosco, mostrando que entende o que perguntamos ou falamos.

P1020691O movimento é fundamental para que a criança descubra o mundo, tendo dele consciência. É através do movimento que ela trava relações consigo mesma, com o outro e com o seu entorno. Ela conhece e experimenta o mundo através de seu corpo, é este que permite a aprendizagem. Pegar, sentir na pele, ouvir, discriminar ruídos, ver, experimentar cheiros diferentes, texturas variadas, novos sabores. Novas vozes, novas emoções, experiências de afetos, … e assim o mundo vai se mostrando, sendo descoberto, vivido e sentido. Assim vai aprendendo sobre limites, respeito e liberdade.

A primeira infância tem como características marcantes a necessidade de movimento, a curiosidade e a interatividade, o que precisa ser considerado por quem lhe oferece atividades, organizando-as de maneira mais dinâmica para que a criança pense, sinta e aja com todo o corpo. Um problema comum da escola é a proposta de movimentos automatizados e repetitivos que priva a criança de criar seus próprios movimentos, estimulando-as à cópia e à repetição.

Os estudos da teoria walloniana mostram que até se aproximar dos seis anos, a criança ainda não consegue focar sua atenção e ficar em uma mesma posição por muito tempo. Por isso, para que a escola possa exercer seu papel de trabalhar o desenvolvimento da criança, a educação infantil não deve exigir que a criança fique imobilizada atrás de uma mesinha, o que contraria suas necessidades vitais. Ela precisa ser estimulada a usar sua imaginação, seu corpo, sua criatividade, sua expressividade. Que possa dançar, brincar, interagir, cantar, enfim, aprender e ter seu desenvolvimento estimulado com prazer e alegria.

É por volta dos seis/sete anos de idade que ocorre o fortalecimento da cognição, podendo a criança ter maior controle sobre seus movimentos e mais autonomia para uma aprendizagem formal. Compreender as fases do desenvolvimento infantil propicia relações mais equilibradas na sala de aula e menor desgaste dos educadores. Também permite melhor compreensão das atitudes infantis, de que não é de castigo que a criança necessita quando não consegue ficar parada por muito tempo, muito menos de remédios que a façam perder sua natural espontaneidade.

Com um trecho do significativo e sensível poema de Pedro Bandeira, Vai já pra dentro menino!, encerro nosso texto desta quinzena. A poesia o complementa lindamente.

[…]

Se eu me fecho lá em casa,

Numa tarde de calor,

Como eu vou ver uma abelha

A catar pólen na flor?

Como eu vou saber da chuva

Se eu nunca me molhar?

Como eu vou sentir o sol,

se eu nunca me queimar?

Como eu vou saber da terra,

Se eu nunca me sujar?

Como eu vou saber das gentes,

Sem aprender a gostar?

Quero ver com os meus olhos,

Quero a vida até o fundo,

Quero ter barro nos pés,

Eu quero aprender o mundo!

Suas sugestões, comentários e perguntas são sempre muito bem-vindos. Deixe-os no espaço abaixo. Responderei assim que possível.

Um grande abraço e até a próxima.

Fotos de meu arquivo pessoal.

 

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Estica, dobra, pula, roda, sobe e desce… Cansou? Que nada!!!!

Nenhuma criatura jovem pode conservar seu corpo ou sua voz sossegados; elas estão continuamente tentando produzir movimentos e ruídos. Pulam e saltitam, dançam e fazem travessuras como se estivessem sempre em júbilo, e voltam a emitir gritos de todos os tipos (Platão).

Pois é, já na Antiguidade, o sábio grego observava que criança não vive sem movimento. E olhe que, naquela época, criança ainda não tinha voz (e nem vez). Não foram poucos os estudiosos da infância que reafirmaram isso, analisando sua importância para o desenvolvimento infantil. Mas por que será que este controle do corpo ainda é tão persistente? Por que ainda se acredita que para aprender é necessário estar sentado eCaneta e régua? Não!! Um avião quieto? Pesquisas apontam claramente alguns pontos mais evidentes, embora não sejam os únicos:

Primeiro porque a dinamicidade natural dos corpos das crianças pode ser controlada com mais facilidade se estas estiverem sentadas e contidas pelas mesinhas, o que assegura a autoridade do professor, pelo menos em tese, livrando-o do que é o terror da maioria: a bagunça. Mas será mesmo que movimento é a mesma coisa que confusão e gritaria? Que sempre causa desordem? E, infelizmente, isso se mostra também em turmas de Educação Infantil em que o movimento é essencial para o desenvolvimento saudável da criança. Mas a criança, quando não pode se mover, sempre encontra um meio de burlar este controle, como mostra a foto em que uma caneta e uma régua se transformam em um avião que voa escondido.

Segundo porque se tem a ideia absolutamente errônea de que o movimento atrapalha a aprendizagem da criança, tirando-lhe a atenção e a concentração. Entretanto os estudos de Henry Wallon apontam a relação íntima entre inteligência e movimento, e a “incapacidade” de a criança mais nova ficar quieta por um tempo mais longo. Na verdade, ela não tem, ainda, condições de desenvolvimento para isso.

Terceiro porque os professores, por considerarem que é o mais adequado e/ou devido a lhes trazer maior segurança, repetem a fórmula com que foram escolarizados, repetem o já conhecido.

É importante analisar essa questão por outro ponto de vista: não seria a excessiva falta de movimento, esta expressão necessária da criança que descobre o mundo e em quem vibra curiosidade e energia, que gera a falta de concentração e de atenção? A agitação excessiva não seria fruto dessa energia, que parece inesgotável, que está contida e que busca se expressar e que precisa ser gasta a todo custo? Além do mais, estabelecer regras e limites faz parte da brincadeira. Ou não faz?

O RCNEI – Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, que tem o movimento como um dos eixos considerados fundamentais ao desenvolvimento infantil, alerta quanto às rígidas restrições posturais que buscam suprimir a mobilidade das crianças, impondo-lhes longos períodos em que não devem se mover, sendo qualquer deslocamento ou gesto, qualquer mudança de posição vistos como desordem ou indisciplina. Mas as transgressões são inevitáveis, pois o corpo precisa se mover. E quando falo em movimento não me refiro apenas às brincadeiras ou jogos Resistênciaque exigem espaço mais amplo como jogar bola, brincar de pique, pular corda ou amarelinha, mas também àquelas que se adequam à sala de aula como passa-anel, jogos cantados, jogos teatrais ou as outras possibilidades de que falamos em artigos anteriores. Também a dimensão subjetiva do movimento precisa estar presente de forma que se explore a comunicação gestual, a percepção de emoções, a expressão de sentimentos (o que será aprofundado em outro artigo).

É fundamental que a educação escolar incorpore, em seu processo pedagógico, o desenvolvimento de atividades que permitam à criança conhecer o mundo,  conhecer   a   si   própria   como   sujeito   com   condições   de   atuar   neste   mundo   e   de transformá-lo. E o autoconhecimento, processo que dura a vida toda e que pode (e deve) se iniciar na infância, implica, inicialmente, o conhecimento do próprio corpo, dos sentidos e de sua estimulação, de diferentes linguagens expressivas como a corporal ou a musical, da identificação gradual daquilo que é sentido. Nosso corpo traz o mundo para nós e também registra nossas múltiplas experiências: a alegria, a confiança, a perda, a dor, o medo, o prazer… E isso deve fazer parte da aprendizagem, isso precisa ser, também, trabalhado. A aprendizagem emocional é tão importante quanto a intelectual e a motora. Afinal, somos uma totalidade, lembra?

O mundo real, a fantasia, a ludicidade e o movimento se mesclam na infância em uma tessitura de muitas cores e de muitas expressões. Aos poucos, a criança começa a perceber a realidade de forma mais crítica e objetiva, a cognição se sobrepõe à emoção e ao movimento, o que ocorre por volta dos seis anos de idade, quando tem início o ensino fundamental que não deve, também, tirar a ludicidade da vida da criança. E, por isso reitero a importância essencial do movimento e do lúdico.

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A dissociação entre o real e o lúdico não deve ser impingida à criança a título de fazê-la crescer “a ferro e fogo”. Interferir neste processo é uma forma de violência que pode lhe trazer muitos danos (É como tentar liberar a borboleta de seu casulo antes do tempo. Ela não conseguirá voar). Não é à toa, como discutimos anteriormente, que a brincadeira é fundamental para a elaboração de situações que a criança ainda não consegue entender. Não podemos esquecer que a criança não pensa, sente ou age como nós, adultos (embora nós ajamos como criança em determinadas situações, não é mesmo?).

As atividades da criança devem ter sentido para ela, devem expressar vida, envolvê-la, não serem mecânicas, ou seja, devem ser lúdicas e criativas. Caso contrário se cria dispersão e desinteresse. Crianças (e mesmo jovens e adultos) que se envolvem em atividades lúdicas e criativas entram em maior contato consigo, o que lhes abre portas para descobrir o mundo, lançar-lhe um outro olhar, criar novas possibilidades de construir saídas, conhecimento e compreender a realidade.

Educar não é homogeneizar, igualar, produzir em massa, mas estimular as singularidades e potencialidades de cada ser; não é dar respostas prontas, mas ensinar a buscá-las; educar é trabalhar a corporeidade, considerando o sentir-pensar-agir. Educar é humanizar.

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As fotos foram retiradas das dissertações de Mônica Cristina Neto e Patrícia Vieira Bonfim por mim orientadas. Com Patrícia escrevi o capítulo cujo link está ao final para quem desejar aprofundar mais o assunto.

Depois de tanto movimento, no próximo texto, vamos pensar possibilidades de levar às crianças atividades que as ajudem a expressarem suas emoções e a lidar melhor com elas.

Deixem seus comentários e perguntas ou sugestões no espaço abaixo. Seu retorno é muito importante para mim.

Até a próxima!!

https://books.google.com.br/books?id=MV126jYry7IC&pg=PA88&lpg=PA88&dq=corporeidade+lucia+helena+pena+pereira&source=bl&ots=VtyD8FPKlb&sig=ER2_PQHGEz_Px3Zo17Qec5B6MJw&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiCz5W9gJXOAhVEj5AKHRskCz4Q6AEIRzAG#v=onepage&q=corporeidade%20lucia%20helena%20pena%20pereira&f=false

 

E o corpo da criança, também vai à escola?

Gestos e movimentos infantis são muito mais que uma forma de a criança acessar objetos ou de se deslocar no espaço, são maneiras de perceber o que a cerca e de se expressar, refletem sensações, emoções e pensamentos. É através do corpo que a criança responde aos estímulos que recebe a cada momento, que entra em contato com seu meio ambiente, com as pessoas, enfim, com o mundo que ela está descobrindo e conhecendo. Ela não “vê” apenas com os olhos, “vê” com o corpo inteiro, ela precisa pegar um objeto, sentir a textura, se é leve ou pesado, se faz barulho ou se não faz nada, analisar suas possibilidades, descobrir os seus mistérios.

Menina dançando

Quando o intelecto é excessivamente valorizado, deixando-se de lado aspectos psicomotores, podem ocorrer alterações significativas que se mostram através de irritabilidade, tiques, perturbações respiratórias, dor de estômago, ansiedade, entre muitas outras. Quem trabalha com a criança não deve esperar seres capazes de se manterem imóveis. A criança se expressa e aprende através do movimento, ela é movimento. Assim, organizar formas de canalizar essa energia motora será menos cansativo e mais proveitoso do que tentar mantê-las quietas e paradas, especialmente na educação infantil.

É fundamental, ainda, que nossos pequenos possam estabelecer relações e trocas com outras crianças, uma vez que são seres sociais e, por isso, necessitam do contato com o outro para a sua formação como indivíduos. A criança precisa de um tempo-espaço para essas trocas com os coleguinhas de brincadeiras e movimentos, de falar e de ouvir, de aprender e sentir prazer. O que é um ótimo momento para que a professora (ou professor) ou também os pais possam observar como agem e interagem, se conseguem se relacionar bem e se envolver naquilo que é proposto, do que gostam mais, como se expressam. A aprendizagem ocorre de modo intenso nessas interações entre a criança e seu meio, a linguagem e o raciocínio se desenvolvem, o processo de perceber a si mesma frente ao outro se aguça, a percepção dos próprios limites e dos limites do outro é trabalhada, construindo assim sua identidade e autonomia, indispensáveis ao seu desenvolvimento.

Desafios são necessários e devem ser apresentados, mas sem que haja pressão, e sim, incentivo para que aBalanço criança possa ir encontrando a maneira de superá-los. E a cada desafio vencido, nova aprendizagem. De forma espontânea, a criança busca se adaptar ao novo, ampliando sua capacidade sensorial e motora. Materiais diferentes, com cores variadas e diferentes tamanhos, brincadeiras, músicas com movimentos, por exemplo, são meios eficazes de estimulação. Não é uma aprendizagem apenas corporal, mas cognitiva, emocional e social também. Movimentos repetitivos, que se deseje saiam “certos” e “iguais” não trazem os mesmos ganhos que os movimentos expressivos.

Mais adiante, em outro artigo, vamos analisar características de cada etapa, pois uma criança de três anos não tem as mesmas especificidades de uma de seis anos. Mas, por ora, é importante enfatizar que não é desejável comparar crianças. Precisamos lembrar que cada criança tem seu modo de ser, sua própria forma de se desenvolver, seu ritmo, suas habilidades adquiridas, seu modo próprio de sentir e reagir. Além de considerar e respeitar sua individualidade, é necessário considerá-la, ainda, como uma criança de uma determinada faixa etária e com vivências diferenciadas. Uma criança que teve mais ou menos estímulos também faz muita diferença. Aquela que fica sentada na frente da TV por horas a fio, não terá as mesmas respostas da que recebe frequentes estímulos. Comparar seu filho com o priminho, com o filho do vizinho ou da amiga não vai melhorar o seu “desempenho”, mas pode trazer uma grande carga de ansiedade para você e para a criança.

Ambientes diferenciados também são significativos, são uma aprendizagem do uso do espaço.  Dentro e fora, em cima e embaixo, esquerda e direita, na frente e atrás, alto e baixo, rodar, abaixar, levantar, bater pé, bater palmas, estalar os dedos (às vezes é difícil, mas com o treino se chega lá), mãos nos pés, mãos na cabeça, mãos na cintura… são movimentos divertidos e que podem ser A canoa viroufeitos em qualquer lugar. Se você contar histórias em que todos fazem os movimentos, melhor ainda. Pode inventar à vontade. “Mamãe posso ir? Quantos passos? Dez de canguru. Um de gigante… bem maior que dez de formiguinha”.

Sempre ficava “louca” na faculdade quando não encontrava um lugarzinho nas atividades escritas à mão por meus alunos para fazer comentários ou deixar meus bilhetinhos. Não havia margens, as linhas se amontoavam, espaço zero. Precisava colar um post-it para isso (aqueles papeizinhos autocolantes super úteis). Provavelmente, sua coordenação espacial foi mal trabalhada. Um corpo precisa, antes de usar o papel, se expressar no espaço, dominá-lo, expandir-se, contrair-se, aprender a se localizar, o que também ajuda o equilíbrio. Imaginem uma pessoa que fica fechada dentro de um quartinho por muito tempo, quando sair, vai ser difícil se movimentar em espaços mais amplos, vai ficar meio perdida. Da mesma forma, é preciso aprender a lidar com pequenos espaços cheios de mesas e cadeiras ou se vai bater e tropeçar em tudo. (Um trenzinho que passeia pela sala pode ser bem interessante. Com direito a barulho de trem e apito, de aceleração e diminuição do movimento até a parada na estação de onde sai devagarzinho e vai acelerando até que venha a próxima chegada. E que será que há na estação? Bichos, gente, um rei mandão ou um lugar mágico? Será que encontraremos a bruxa malvada ou a princesa encantada? Pode ser que surja até o Ben 10 ou uma tartaruga ninja. Nunca se sabe!!!).

Há uma brincadeira muito útil para localização e coordenação espacial. As crianças vão andando pela sala e, mediante a ordem de quem orienta a atividade, vão se colocando sobre folhas de jornal ou dentro de bambolês onde há um bom espaço para todas. Aos poucos, vai sendo diminuído o número dessas folhas ou dos bambolês, e as crianças precisam se organizar dentro dos espaços oferecidos. Inclusive se trabalha a colaboração, pois vai chegar a hora em que precisam se ajudar para manter o equilíbrio nos espaços específicos, ficando bem juntinhas. Outra opção é pedir que dancem e, quando a música parar, se dirijam aos espaços delimitados. Isso trabalha a acuidade auditiva e o ritmo, o que também trabalha o equilíbrio. O melhor de tudo é que é uma atividade que as crianças adoram. E quando você começar a criar, não vai parar mais. Criatividade se desenvolve quando é estimulada.

Se bobear, não termino o texto de hoje, há muito a dizer!!! Mas, na semana que vem, continuamos este assunto que dá pano para muitas mangas. Também falaremos de estimulação sensorial.

Se tiverem alguma dúvida ou sugestão, mandem sua mensagem, pois poderei lhes responder no próximo artigo e (quem sabe?) tirar a mesma dúvida de outros educadores; ou lhes responder diretamente, se for mais apropriado. Boa leitura e até lá!!!

Agradeço muito a contribuição das fotos que foram devidamente autorizadas. As aqui publicadas foram tiradas por Rosilene Maria da Silva Gaio e estão em sua dissertação de Mestrado, por mim orientada. A menina dançarina foi retirada da internet. Muito expressiva, não é?!

Corporeidade. O que é isso?

Olá, educadores!

 

Na primeira postagem, anunciei que iria iniciar falando de corporeidade, e adiantei que não é a mesma coisa que corpo. Mas, afinal, o que é corporeidade, este conceito que tem um significado tal que precisa ser discutido para que se entendam necessidades fundamentais da criança (e do adulto também)?

Corpo todos nós sabemos o que é, nossa estrutura que tem músculos, ossos, cartilagens, veias, artérias, que guarda os diversos órgãos, e muito mais. A fisiologia do movimento, a anatomia e a biologia são algumas das áreas que se dedicam ao estudo do corpo. Quem não se lembra das aulas de Ciências e Biologia que nos obrigavam a decorar muitos nomes que nos deixavam enlouquecidos nas vésperas das provas?

Corporeidade é um conceito relativamente novo que foi trazido pelo filósofo francês Merleau-Ponty, no século passado. Este conceito começa a ganhar maior amplitude em outras áreas com os estudos que outros autores passam a desenvolver e difundir.  Somente no final do século XX e início do atual, ele chega às universidades brasileiras e aos cursos de Pedagogia e Educação Física com maior abrangência. E ele engloba não só o corpo e o movimento, ou seja, a motricidade, mas também a afetividade (que não tem necessariamente relação com afeto ou carinho, pois envolve a grande variedade de emoções, sentimentos e paixões que nos afetam). Envolve ainda a racionalidade e as relações estabelecidas pelo ser com seu meio sociocultural . Além das dimensões motora, afetiva, intelectual e social, a corporeidade inclui ainda a dimensão espiritual do ser humano.

É importante que abramos parêntesis aqui: é preciso entender que espiritualidade não tem nenhuma relação com religiões, embora, possamos dizer que, de modo geral, as religiões objetivam desenvolver o lado espiritual do ser. Quando se fala da dimensão espiritual da corporeidade, fala-se daquilo que vai além de necessidades materiais ou físicas, de necessidades mais profundas do ser humano que o ajudam a tornar-se uma pessoa melhor, como o cuidado com o outro, com seu meio e consigo mesmo, a solidariedade, o respeito, o compromisso e a amorosidade. Voltaremos a essa questão daqui a um tempo, uma vez que é a falta desses atributos um grande gerador do preconceito, do vandalismo, da violência, entre outros danos que as sociedades têm vivenciado.

A criança, que é nosso foco aqui (mas, também, pessoas de qualquer idade), para seu desenvolvimento equilibrado, precisa ser vista como alguém que pensa, sente, se movimenta e está vinculada a seu meio sociocultural. Infelizmente e com muita frequência, a educação cerceia o movimento e a expressão, como se estes atrapalhassem o desenvolvimento da criança.  No entanto, o movimento é condição fundamental para a construção do seu conhecimento, para o processo de conhecimento de si mesma e de diferenciação do outro, enfim, de sua constituição como sujeito. Claro que não é admissível ou desejável que a criança não tenha limites. Não se pode deixar que ela suba na mesa, se pendure nas cortinas ou no ventilador (se a sala os tiver). Limites são necessários e as regras ou os famosos combinados são importantíssimos. Entretanto, mobilidade e inteligência são inseparáveis, pois é através do movimento que o pensamento se estrutura e que as emoções se organizam. Se observarmos uma criança que começa a descobrir o mundo por volta dos nove meses, podemos comprovar a importância de experimentar suas possibilidades, segurar tudo, experimentar formas diferentes de usar os objetos, de explorar tudo que é novo. Mais adiante, ela vai experimentar suas possibilidades de movimento, de ocupar espaços, de subir, de descer, enfim, ela vai, através da exploração pelo movimento, conhecer o seu entorno e seu próprio corpo. Observe, também, como a criança fala com o corpo inteiro quando expressa suas emoções, quando conta o que viu que a encantou, ou narra uma história que ouviu. Os gestos e os movimentos são complementos essenciais. “É muito grande” sempre vem acompanhado de mãos e braços que se abrem, o não quero, por braços que se cruzam na frente do corpo ou por um dar as costas, e, com certeza, você que lê o texto já se lembrou de muitos outros exemplos. E os gestos vão expressar também o que é culturalmente vivenciado por essa criança. E aqui já vale uma observação: se quando os responsáveis pela criança baterem nela quando sua atitude os desagradar, é claro que ela vai fazer isso com o coleguinha ou até com o professor que o deixar aborrecido. Maus hábitos são aprendidos, mas os bons também!!! O importante, especialmente para professores, é lembrar que nosso corpo expressa o que vivemos, e que não devemos julgar a criança como má por isso. Neste caso, castigos e “isolamento” não resolvem! Um bom papo, a atenção e carinho podem ajudar muito mais.

Quando se fala de uma educação integral ou da integralidade do ser, estamos falando de corporeidade. No próximo post, vamos continuar esta história, e saber o que se pode fazer para trabalhar a corporeidade da criança. Já adianto que há formas muito prazerosas de fazer isso para crianças e educadores. Até lá!!!

Na página abaixo, se desejar, você encontrará uma visão mais aprofundada desta postagem e das duas que virão a seguir. Boa leitura!!

http://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/9225