Crianças sensíveis? Alta Sensibilidade você sabe o que é?

Trazemos hoje um tema que vem sendo discutido em várias partes do mundo e que acredito seja do interesse de muitos educadores – pais, professores e outras pessoas que formam crianças. Para falar com mais propriedade do assunto, convidei Jaqueline Marilac Madeira, com quem escrevi três artigos para este site sobre Educação Emocional, para escrever o artigo de hoje, uma vez que é especialista nessa área e participou, no último mês de fevereiro, de uma jornada de PAS – Pessoas Altamente Sensíveis. O texto é de autoria de Jaqueline, cabendo a mim sua tradução. Este primeiro texto se volta mais para a criança, no próximo, será aprofundada a fase adulta. Boa leitura!

Recebemos, em Oviedo, Karina Zegers de Beijl, presidente da Associação de Pessoas Altamente Sensíveis da Espanha, máxima representante do grupo PAS, e grande divulgadora deste conjunto de características. Ela viaja pela Espanha dando oficinas e conferências sobre esse traço de personalidade descoberto e pesquisado pelo Drª. Elaine Aron, nos anos 90, chamado de PAS (HSP – Highly Sensitive Person). Estima-se que 15 a 20% da população apresentem estas características.

Conceito e características PAS

As pessoas altamente sensíveis podem ser como esta bolha de sabão da imagem. Grandes, com a beleza da cor e ao mesmo tempo transparentes. Tão permeáveis que, às vezes, se confundem com o mundo de fora. Elas apresentam um conjunto de características inatas, que chamamos também de traços de personalidade, se caracterizando, principalmente, por quatro pilares:

Alta capacidade de percepção sensorial – Tais pessoas têm uma capacidade superior de percepção e processamento de informações sensoriais, um sistema neuroperceptivo mais fino. Podem ser capazes de perceber cheiros, sabores e ruídos com mais intensidade e com mais frequência que o habitual; são capazes de perceber minúsculos gestos e/ou contradições nas falas e gestos das pessoas assim como em suas emoções. E tudo de uma vez, o que também, muito habitualmente, provoca saturação, desconforto ou fadiga antes do que seria comum em outras pessoas.

Alta capacidade empática e emotiva – de uma forma natural, elas “empatizam” e vivenciam o sofrimento ou a alegria dos outros como se fossem seus. A intensidade com que vivem e sofrem a crueldade e a injustiça pode surpreender. Ver e experimentar a crueldade ou injustiça, mesmo pela televisão ou cinema, para as PAS é, muitas vezes, quase a mesma coisa, vivências estas que podem levar a certa paralisação momentânea, as fazendo sofrer profundamente. Uma emoção à flor da pele permite que vivenciem a arte, a música e pequenos momentos com mais profundidade.

Grande capacidade de reflexão – as PAS são pessoas que constantemente estão pensando, questionando e fazendo perguntas sobre como o mundo funciona, muitas destas perguntas têm caráter existencial ou até mesmo espiritual. Desde a infância, a reflexão e os questionamentos são constantes.

Necessidade de momentos de solidão – as PAS precisam ter tempo de silêncio, refugiando-se na arte, na música e nas leituras. Embora gostem e aproveitem estar com pessoas, buscam estar sozinhas em alguns momentos. Parece ser uma forma de descansarem e reajustarem o excesso de estimulação vivida em outros momentos.

Além disso, podem ser extrovertidas ou introvertidas. São muito observadoras, porém não gostam de ser observadas, o que pode, inclusive, afetar o seu rendimento. Podem custar mais a tomar decisões; se sentir desconfortáveis com cenas de violência ou agressão, sendo mais sensíveis a críticas e mais intensas emocionalmente. A intensidade com que vivem tudo pode, muitas vezes, gerar dificuldades na vida diária. O perigo é que a intenção e o esforço de se adaptarem ao mundo, de vê-lo e senti-lo como os demais as possa levar a quadros de ansiedade, depressão ou somatizações.

Pesquisas neurológicas já demostraram que estas pessoas nascem com a parte direita do cérebro mais atuante, e com um sistema nervoso capaz de captar um maior número de estímulos e processá-los com mais detalhes. Da mesma forma, sua área da empatia é bem mais ativa. Isso explica que percebam mais cheiros e ruídos, e captem, mais rápido, as necessidades de outras pessoas.

A PAS desde a infância

Estas características são evidentes já nos primeiros meses de vida. São bebês que choram com mais facilidade, que diante de qualquer pequena mudança como alterações de luz ou ruído, geralmente, demonstram extremo desconforto.

São crianças que se assustam com mais frequência, muitas vezes se queixam de roupas que as incomodam, costuras de meias, tecidos ásperos ou etiquetas que lhes irritam a pele. Choram ou se paralisam com gritos ou reprimendas bruscas. Até mesmo algumas surpresas podem provocar um bloqueio inicial, com certo desconcerto.

Elas demonstram grande capacidade de perceber os sentimentos e pensamentos dos outros. Muitas vezes, têm um vocabulário mais rico e maior maturidade para a sua idade, são muito curiosas, criativas e apresentam interesses incomuns para sua pouca idade. Estão interessadas em compreender o mundo e o mostram de uma forma muito particular. Morte, filosofia e até mesmo o universo são temas frequentes de conversa. Elas também tendem a ser muito perfeccionistas, o que, às vezes, gera problemas escolares por suas altas expectativas a como realizar certas tarefas, pouco reais para a idade em que estão. Além das dificuldades com o barulho e a percepção dos sentimentos dos colegas e professores que precisam aprender a administrar.

São crianças emocionalmente muito intensas. Elas alternam o grude excessivo a alguns adultos e a necessidade de espaços solitários, precisam brincar e ficar sozinhas em alguns momentos. A sensibilidade acústica está presente em quase todas as crianças PAS; lugares cheios e barulhentos, geralmente, as bloqueiam, as paralisam.

É importante estar alerta e identificar essa característica, mas lembrando-se que não é um transtorno. E, se bem canalizadas, essas características são, na realidade, um grande dom, e as dificuldades podem ser facilmente superadas com lições simples para o dia a dia.

A capacidade de gerir e aprender a identificar as emoções é trabalho fundamental para as crianças ou adultos altamente sensíveis. É importante desenvolver a inteligência emocional, investir em autoconhecimento e aprender a construir uma rotina mais de acordo com suas próprias necessidades, o que inclui aprender a superar os bloqueios e desenvolver estratégias para tomar decisões melhores e mais rapidamente. Mas o mais importante e o primeiro passo é se aceitar e aceitar as características deste traço de personalidade. Nossa mensagem é de aceitação e de abertura a oferecer ao mundo a beleza do sensível e do sutil.

Quanto aos pais de crianças com estas características, cabe a aceitação e a gestão das pequenas dificuldades do dia a dia, fundamental para o adulto que ele será. Assim, caso não possam lidar sozinhos com as dificuldades, vale buscar ajuda profissional especializada.

A imagem é do site Pixabay.

Queridos leitores,

Como está dito no início deste texto, a sua autoria é de Jaqueline Madeira, tendo cabido a mim apenas sua tradução. Muitas vezes, não me senti segura para responder às perguntas feitas, tendo enviado à psicóloga Jaqueline, especialista em alta sensibilidade, as questões formuladas, para serem respondidas diretamente por ela. Assim, peço que se desejarem maiores esclarecimentos, no caso específico deste artigo, acessem o seu site, entrando em contato direto com ela: https://www.jmmadeira.com

Agradeço a compreensão e os recadinhos enviados, lamentando nem sempre poder responder às questões formuladas.

Grande abraço

Lucia Helena