menino_palyground - Ludicidade
Ludicidade: vida, cores, alegria e aprendizagem

Olá, educadores!!!

No artigo postado na última segunda-feira, dia 27 de junho, trouxe o conceito de corporeidade, que integra as dimensões cognitiva, afetiva, motora, social e espiritual do ser humano. Chamei a atenção para a importância desta visão de integralidade ao trabalharmos com a criança e para o fato de que há muitas formas prazerosas de trabalhar sua corporeidade.

É através do corpo, do movimento e dos sentidos que a criança percebe o mundo que a cerca, com ele interage e o transforma. O que é experienciado é imediatamente assimilado, o que é vivido é mais bem apreendido e aprendido. No entanto, têm sido impostas à criança uma imobilidade que contraria suas necessidades fundamentais e atividades pouco ou nada significativas para sua experiência pessoal que, muitas vezes, seguem rotinas rígidas e repetitivas que não possibilitam o desenvolvimento de sua autonomia, criatividade e expressividade. Os espaços são inadequados, muitas vezes, ocupados por mesinhas e cadeiras, que tolhem as atividades motoras da criança, reduzem seu campo de experiências e reprimem a expressão natural de suas emoções. Esta “repressão” acaba por entorpecer as sensações, enrijecer movimentos, limitar a expressividade, gerando desajeitamento, desconfiança, e mesmo timidez e insegurança, que podem acompanhá-la na adolescência e idade adulta.

As muitas pesquisas que orientei de mestrado, iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso (TCC) e outras tantas que li, além do acompanhamento de estágios, mostram que isso é muito mais comum do que imaginamos, e que é preciso insistir nessa questão, pois nossas crianças de hoje serão os adultos de amanhã.  E é mais que desejável que se tornem adultos que além de usarem a cabeça, saibam lidar com suas emoções e com seu corpo, enfim, que sejam pessoas felizes consigo mesmas e que saibam se relacionar adequadamente.

Aí, vocês podem me dizer: mas vai virar bagunça todo mundo se movimentando!!! Como vou controlar as crianças??? Calma! Existem muitas possibilidades e podemos escolher o que mais se adeque ao local e ao momento. Uma das possibilidades de trabalhar a corporeidade da criança, permitindo-lhe sentir, pensar e agir em contato com outras crianças e com os adultos se dá através da ludicidade. Quando se fala de atividades lúdicas, a primeira ideia que nos vem é de jogos e brincadeiras. E, sim, estes estão aí incluídos. Mas tais atividades apresentam muitas outras opções. Segundo estudos mais recentes, a visão de ludicidade é bem mais ampla, e é esta visão, da qual compartilho, que desejo trazer para vocês. A ludicidade tem características essenciais que explicam tal amplitude conceitual.  Pode-se citar como mais significativas:

 
a) Cognição, motricidade e afetividade se unem na atividade;
 
b) Na atividade lúdica, a criança desfruta plenamente o momento presente, ou seja, o aqui-agora, sem preocupações com resultados ou com recompensas. Não há um fim para a realização das atividades, a finalidade é a própria vivência lúdica;
 
c) A ludicidade se relaciona à ideia de prazer e não de obrigação; há entrega à atividade;
 
d) O sonho, a fantasia, a imaginação e a criatividade têm livre acesso e podem se manifestar à vontade.

Se observarmos as características acima, podemos perceber que além de brincadeiras e jogos, atividades artísticas como cantar, dançar, utilizar uma das muitas expressões dos jogos teatrais, recortar e colar, colorir, pintar, modelar massinha, construir fantoches; brincadeiras cantadas, contar e ouvir histórias; atividades de sensibilização e respiração, além de muitas outras, são lúdicas. Entretanto, mais importante do que o tipo de atividade proposta é a maneira como é apresentada e orientada para que possa permitir entrega e envolvimento, para que cada um se expresse com liberdade e sem rótulos (isso é/não é bonito, por exemplo).

Nas sociedades capitalistas, em que “tempo é dinheiro”, as atividades lúdicas são consideradas irrelevantes ou de pouco valor, sendo colocadas, com bastante frequência, em oposição a trabalho “sério” e vinculadas à ideia de passatempo. E podemos notar isso quando a professora deixa a criança brincar quando faltam dez a quinze minutos para terminar a aula ou como prêmio para quem ficar bem quietinho e não atrapalhar. No entanto, BRINCAR É COISA SÉRIA! Brincar é possibilitar à criança crescimento pessoal e social.

Como consequência da preocupação de preparar a criança para o futuro, a ludicidade vem perdendo seu espaço na infância, o que pode ser observado com a preocupação de professores que, sabendo da importância do lúdico para a criança, sugerem apenas atividades que sejam pretexto para o ensino de determinados assuntos. Não que isso não possa ser feito, claro que sim! Aprender de forma agradável é sempre bom.  Entretanto, se há preocupação excessiva do professor em utilizar a ludicidade com o objetivo de apenas “transmitir” determinado conhecimento, atividades que poderiam ser prazerosas se tornam exercícios estéreis e sem sentido para o professor e, mais ainda, para as crianças. E podem ter a certeza de que qualquer atividade lúdica traz aprendizagem, e não é pouca!!!

Em nosso próximo artigo, na semana que vem, vamos saber mais da importância da ludicidade para a criança e dos mitos que foram criados sobre isso. Se vocês tiverem alguma dúvida, mandem sua mensagem, pois poderei lhes responder no próximo artigo e (quem sabe?) tirar a mesma dúvida de outros educadores; ou lhes responder diretamente, se for mais apropriado. Boa leitura e até lá!!!