Meditação: o que dizem as neurociências?

 

Há algum tempo, assisti a um documentário que falava da meditação para crianças em escolas de São Paulo, e fiquei muito animada por ver que algo que defendo há algum tempo com as práticas da Bioexpressão vem sendo considerado com maior frequência. O desenvolvimento equilibrado do corpo, das emoções, dos sentidos e da cognição da criança constitui, como enfatiza Violet Oaklander em seu livro Descobrindo crianças, o embasamento do senso do Eu dos pequenos e este, quando fortalecido, gera condições para que a criança mantenha relações apropriadas com seu meio e com as pessoas com quem convive.

A Bioexpressão tem como um dos seus principais eixos as atividades de centramento, que objetivam estimular uma respiração mais profunda e favorecer o equilíbrio emocional. A respiração consciente, o relaxamento e a meditação criam um senso de concentração e reequilibram as emoções, aumentando a vitalidade do organismo.

Vivemos uma fase de muita ebulição, de uma preocupação enorme com o ter e o fazer, mas de pouco investimento no ser. Uma época em que somos expostos a muitos estímulos externos o que inclui tablets, computadores, celulares e televisão, que exercem um grande poder e fascínio sobre nossos pequenos (e sobre jovens e adultos, também), cujo uso merece ser visto com cuidado para evitar problemas como analisei em artigo anterior.

Experiências de meditação, visualização, relaxamento e respiração conscientes criam novos caminhos neurais, novas sinapses e conectam todo o cérebro, gerando um novo fluxo de informações e compreensão do aqui-agora. No aquietamento necessário para tais experiências, sentimos paz e temos maior clareza do que acontece a nossa volta.

A meditação ativa permite que a criança se entregue ao momento através de movimentos suaves (Foto de Jaqueline Madeira).

Experimentos científicos realizados mostram como a prática da meditação altera as sinapses cerebrais permitindo maior controle do corpo como a redução da pressão arterial, da aceleração cardíaca e da respiração superficial e irregular, oportunizando que emoções descontroladas sejam substituídas por outras mais saudáveis.

Ensinar nossos pequenos a entrarem em contato consigo e se aquietarem por alguns momentos pode ser mais simples do que se pensa. E, na escola, isso pode ocorrer de forma muito natural com o trabalho em grupo, como já acompanhei algumas vezes. Inicialmente, tudo se mostra uma grande brincadeira para os pequenos, que, gradativamente, vão aprendendo a aquietar o corpo e a mente. Isso se aplica à meditação e, também, às atividades de respiração e relaxamento que são excelentes caminhos para o autoequilíbrio.

As atividades de relaxamento e respiração que nos conduzem a um estado meditativo estimulam áreas do cérebro relacionadas à atenção, à memória e ao raciocínio, o que favorece a aprendizagem, assim como a autoconsciência e a autorregulação emocional. Isso se dá através da plasticidade cerebral que tem o poder de transformar o cérebro emocional, criando muitas possibilidades, como observa o cardiologista brasileiro Georg Tuppy, que afirma meditar há mais de dez anos, sentindo os efeitos positivos desta prática e estimulando seus pacientes a realizá-la. Segundo ele, “não estamos presos ao cérebro com o qual nascemos, pois temos a capacidade de direcionar deliberadamente as funções que vão florir e as que vão fenecer, as capacidades morais que vão surgir e as que não vão surgir, as emoções que vão florescer e as que vão ser silenciadas”. Aquela observação que ouvimos muitas vezes de “nasci assim e vou morrer assim”, está longe de ser verdadeira como mostram os estudos das neurociências. Esta é uma desculpa dos que se acomodam e não querem investir em mudanças.

Meditar traz efeitos muito positivos como aquietar a mente, propiciar um sono mais tranquilo, relaxar, diminuir a ansiedade, estimular o funcionamento do sistema imunológico, estimular a criatividade, a imaginação e a autodisciplina, aprender a respirar em momentos de tensão, trabalhar a autoestima positiva. E podemos afirmar que os muito ganhos aqui elencados não são apenas para as crianças, mas para todos que invistam nesse processo.

A criança que passar pela experiência da meditação com regularidade, se tornará um jovem e um adulto com bem mais facilidade de meditar e usufruir os efeitos desta técnica milenar que ganha, a cada dia, maior número de adeptos. Pesquisas na área médica revelam resultados muito positivos, incluindo a melhora de doenças e/ou maior equilíbrio para lidar com elas. No Rio de Janeiro, o INCA – Instituto Nacional do Câncer tem uma experiência maravilhosa no setor pediátrico com sessões de meditação, que ajudam as crianças e seus responsáveis a lidarem com as tensões e dificuldades de enfrentar o tratamento. Também membros da equipe médica  e de enfermagem participam desses momentos de alívio de uma rotina estressante, contribuindo para que se tornem mais empáticos.

Vale enfatizar que a meditação nos ajuda a criar conexões mais equilibradas e saudáveis não só conosco, mas também com o outro, e aumenta a empatia, a capacidade de se colocar no lugar de outra pessoa. Isso facilita que se criem relações em que, independente de raças, crenças religiosas ou culturas, predomine um espírito de solidariedade e fraternidade de que estamos bastante carentes. As práticas meditativas contribuem, por tudo isso, para aumentar a inteligência emocional e a resiliência, a capacidade de lidar com as adversidades e delas se recobrar mais facilmente.

Pequenos movimentos e alongamentos podem dar início ao momento da meditação (Foto de Rosilene Maria da Silva Gaio)

 

Não podemos esquecer que a criança, especialmente na Educação Infantil, ainda não está preparada para ficar períodos mais longos concentrada e que o efeito de uma tentativa de maior tempo de imobilidade não teria êxito. Portanto, devemos oferecer poucos minutinhos que poderão ser aumentados aos poucos, de acordo com a aceitação da criança.

É importante que os pequenos não se sintam forçados a praticar a meditação. Sugiro sempre aos educadores (pais ou professores) que façam deste momento uma atividade lúdica e que, em princípio, seja orientada por eles. Há várias formas de meditar, mas pela minha experiência, a narração de uma história a ser vivenciada pela imaginação, é uma ótima opção, ou seja, temos um processo de visualização ou imagens mentais. O educador deve conduzir a criança com uma pequena história de fácil compreensão, de forma relaxante, com voz suave.

“Feche os olhos e imagine que você está flutuando como um barquinho em um lago muito azul que reflete o céu. (Pausa para que imaginem) Um calorzinho gostoso aquece seu rosto e um ventinho bem suave faz com que você se movimente por este lago. (Pausa) Sinta seu corpo subindo e descendo com o movimento suave das pequenas ondas que se formam, ouça o barulhinho da água, sinta o cheirinho da mata que cerca o lago. (Pausa) Aos poucos, você vai flutuando até a margem e se senta na areia, respira profundamente se espreguiçando.”

Muitas são as possibilidades, e você pode criar pequenas narrativas que façam parte da vivência da(s) criança(s). Podemos pedir que fechem os olhos e usar sons que permaneçam vibrando por um tempo e que devem ser ouvidos até que desapareçam como o de um sino tibetano, um pau de chuva ou a corda de um violão. Isso ajuda muito a concentração dos pequenos. Repita apenas um número de vezes que não cause dispersão.

Há muitas sugestões interessantes que podem ser encontradas na web, mas, como disse antes, você pode criar as possibilidades. Deixe que sua imaginação o ajude nesta tarefa.

 

Fotos de arquivo pessoal de Jaqueline Madeira e Rosilene Maria da Silva Gaio que realizaram  pesquisas nessa área sob minha orientação.

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