Poder e magia da música para a criança

 

O ritmo está presente em toda parte – nas batidas do coração, no fluxo respiratório; nos processos biológicos, nos fenômenos da natureza. Há ritmo no bater de asas dos pássaros, no vaivém das ondas do mar, nas fases da lua, na cadência dos passos, das palavras, no movimento das máquinas. Como afirma o musicoterapeuta Carlos Fregtman, tudo se manifesta através do ritmo, que é a pulsação vital. Estamos envoltos em uma poderosa sonosfera e não ficamos imunes a ela, pois não temos como desligar nossa audição como fazemos com a visão fechando os olhos.

Pendurados no berço, há caixinhas e objetos que atraem o bebê com musiquinhas e sons suaves, são muitas as cantigas e sons presentes nos brinquedos sonoros, na tevê e nos computadores que atraem a atenção imediata das crianças, e que com o tempo mais e mais exercem atração sobre elas. Primeiro balbuciam, depois, com a aprendizagem da linguagem passam a cantar, mexendo o corpinho, batendo palmas, se entregando ao prazer que a música lhes proporciona.

A música é uma linguagem tão valiosa quanto a linguagem verbal, ou seja, a linguagem conceitual. Seu poder terapêutico e pedagógico é ilimitado, pois ela se integra a pensamentos, sentimentos e percepções sensoriais nos níveis mais profundos da personalidade. Atividades com música como jogos cantados e brincadeiras de roda são formas de a criança se expressar e de adquirir conhecimentos adequados à sua faixa etária. Crianças com necessidades especiais muito se beneficiam com a música, exatamente pelo poder da música de atuar além do verbalizável e de superar resistências, tocando corpo e mente, atuando sobre a sensibilidade que é uma forte marca dessas crianças.

A educação musical na escola não se destina, assim como as outras expressões da Arte, a formar possíveis artistas, mas, sim, a proporcionar uma formação integral de nossos pequenos, trabalhando a corporeidade, ou seja, integrando cognição, afetividade, motricidade e relações sociais. A linguagem musical é um dos meios de desenvolver a expressão criativa e o autoconhecimento, contribuindo muito para as relações interpessoais. Como vimos no texto anterior, uma vez que trabalha as inteligências inter e intrapessoal (autoconhecimento e relações pessoais) estimula a educação emocional.

Também é um meio importante de desenvolver o equilíbrio. Fregtman afirma que tanto os processos corporais voluntários como os involuntários são afetados pelos sons. A música provoca mudanças biológicas – provoca alteração no pulso, na respiração e na pressão sanguínea; relaxa, diminui a fadiga muscular, amplia a capacidade metabólica. Trabalha a sensibilidade, facilitando o acesso a outras formas de estímulo e percepção. O ouvido está diretamente conectado com o sentido do equilíbrio e da direção, do qual depende o controle dos movimentos.

A prática comum em boa parte de nossas escolas de oferecer tudo pronto rouba muito do prazer da aprendizagem – o prazer de experimentar, de vivenciar, de sentir. Construir um instrumento por mais simples que seja e fazê-lo emitir sons é uma rica e prazerosa experiência que merece ser aproveitada.

Muitos são os materiais possíveis: garrafinhas de água e pauzinho de sorvete se transformam em reco-reco que podem sonorizar o barulho de um trem (rápido ou lento, parando na estação) ou acompanhar uma cantiga; tambores e outros instrumentos de percussão surgem magicamente de latas e caixas de papelão de tamanhos diferentes; como baquetas podem ser usados palitos de churrascos com rolhas nas pontas; potinhos e latinhas se transformam em chocalhos. Ainda podem ser usados guizos, sinos e tantos outros objetos que vamos descobrindo aos poucos. A web lhe trará muitas outras ideias. Este material pode ainda ser decorado, ficando com o jeitinho do seu dono.

Sendo a música uma capacidade inerente ao ser humano, todos nós podemos descobrir meios de expressão sonora, seja com o corpo, com a voz ou com um instrumento musical construído com as próprias mãos ou mesmo pronto. É importante que o adulto compartilhe com a criança essas experiências ricas e prazerosas. A improvisação abre espaços incríveis. Os sons são excelentes detonadores da expressão criativa e na contação de histórias; e crianças adoram sons (e histórias também).

Emoção e criação são movimentos pessoais que não fluem através de movimentos alheios, estranhos ou sem sentido; não podem ser moldados por parâmetros massificadores. É importante que a criança (e o adulto também) tenha seus momentos de expressão autêntica, natural, emocional, criadora. Não se pode esperar que todos reajam e se manifestem da mesma forma. Mais que isso, não se deve. Estimular o lugar comum, a uniformidade, é estimular a alienação e o conformismo.

A música possibilita ainda ao educador trabalhar outros aspectos em sala de aula: a atenção, a observação e a concentração; possibilita criar variados ritmos, sons, letras e movimentos; auxilia o desenvolvimento integral do ser (desenvolvendo cognição, motricidade e afetividade); possibilita o conhecimento de ritmos e costumes de diferentes culturas e etnias, como da cultura indígena ou africana.

A música na escola pode estar presente em múltiplas situações e atividades. Pode ser o fundo musical para inspirar uma pintura (mais suave ou mais rápida), um desenho ou qualquer outra atividade através da qual a criança se expresse; pode marcar movimentos do corpo no espaço; pode estar no pátio nas cantigas de roda, nos jogos dramáticos e em inúmeras outras situações escolares.

Trabalhar a música na escola (e em casa também) traz possibilidades múltiplas e bastante significativas para professores que atuam na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, embora não deva ser desconsiderada em outros níveis e modalidades de ensino.

Desta vez, ficamos por aqui. No próximo post, vamos continuar com a música e ver mais de seus grandes poderes. Incluindo o desenvolvimento da neuroplasticidade, do estímulo à aprendizagem e domínio de tempo-espaço.

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A fotos foram retiradas da web.