Educação emocional: o que é exatamente isso?

Este texto foi escrito a quatro mãos pela psicóloga Jaqueline Marilac Madeira e por mim, Lucia Helena Pena Pereira, que a co-orientei em seu doutorado na Espanha, onde o trabalho com as crianças foi realizado. Por ser uma experiência muito rica e inovadora, trouxemos algumas considerações que nos parecem mais significativas para este site, em que optamos por uma linguagem sem o rigor acadêmico, com o objetivo de trazer contribuições para aqueles que estão envolvidos com crianças.

O termo educação emocional está na moda, suscitando muito interesse, curiosidade e dúvidas. E é na verdade tão importante quanto necessário, tanto para pais quanto para professores, conhecer mais e usar este conhecimento no dia a dia da educação das crianças. Afinal, quando sabemos lidar com nossas emoções, elas são grandes aliadas e não as vilãs da história como muitos dos que defendem a racionalidade acreditam.emocao

A primeira pergunta a ser feita é: É realmente necessário educar as emoções? Podemos educar os comportamentos (conjunto de hábitos) e o pensamento que está associado ao sentimento. A emoção é definida como uma reação psicofisiológica com três sistemas de respostas: O primeiro é o fisiológico (adaptativo) que se manifesta através de reações corporais: O que eu sinto? O medo, por exemplo, se manifesta fisicamente com contração muscular, suor frio, aceleração cardíaca. O segundo é o cognitivo, o nosso pensamento, que corresponde a uma linguagem interna que nos induz a reagir. Qual o meu impulso? Gritar por alguém? Esconder-me em algum lugar? O que eu penso? O terceiro é a atitude efetivamente tomada, a conduta que eu expresso: O que faço com o que eu sinto? Saio correndo, fico paralisado, choro, …?choro capa

A emoção tem um grande poder de ativação e motivação para as ações, pode mudar o resultado de qualquer objetivo quando bem utilizada. É fundamental para a tomada de decisões, como já demonstrou o neurocientista António Damásio, e para o processo de aprendizagem da criança. O que desperta prazer e traz alegria é muito mais facilmente apreendido pela criança. O que traz desagrado pode facilmente ser rejeitado e até esquecido. Se a criança está confiante, a tendência é desempenhar bem suas atividades, ter bons resultados em um teste, por exemplo. Entretanto, se estiver com medo, poderá chegar a “ter um branco”, não conseguir tomar atitudes necessárias ou não responder bem às questões de uma prova. Qualquer programa de educação emocional trabalha com estes três sistemas de respostas: sentimento, pensamento e conduta (ação), e a intervenção ocorre, principalmente, no pensamento e na conduta, de forma a permitir maior coerência na expressão do sentimento, e a equilibrar pensamento, sentimento e ação.

Você, que está acompanhando os textos publicados quinzenalmente, deve se lembrar de que, lá no primeiro texto, se falou da importância de começar nossa caminhada pela corporeidade. Lembra? Pois aí está, até para educar nossas emoções precisamos de toda esta estrutura que está sempre presente: pensamentos, sentimentos e ações, e as relações que estabelecemos com o mundo a nossa volta, incluindo, naturalmente, as relações humanas (que, cá pra nós, trazem grandes desafios), mundo de onde recebemos estímulos aos qlogo_familiauais reagimos todo o tempo.

Quem ensina ou educa as emoções? As habilidades vinculadas à educação emocional sempre foram historicamente aprendidas no seio familiar e na convivência com outras crianças, por meio de jogos e na relação com familiares. Mas a vida contemporânea limita cada vez mais as oportunidades de que as crianças adquiram estas habilidades de forma natural, uma vez que os pais ficam fora por mais tempo atendendo a demandas econômicas, não há mais brincadeiras na rua como antes, pois os riscos são maiores e as crianças ficam mais tempo na escola, muitas vezes. Daí surge a necessidade de se desenvolver um trabalho escolar em que estas habilidades possam ser aprendidas. Atualmente, o tempo das crianças está estruturado demais, elas têm, não raro, um acúmulo de atividades, agenda cheia, o que lhes deixa menos tempo para uma convivência verdadeiramente enriquecedora. Acreditamos, assim, que um trabalho que alie escola e família pode trazer resultados ainda mais proveitosos.

Um trabalho de pesquisa realizado e aplicado na Espanha uniu três trabalhos teóricos para desenvolver um programa de educação emocional: a teoria das Inteligências Múltiplas, criada e desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner; a da Inteligência Emocional do psicólogo Daniel Goleman, e a Bioexpressão, criada pela pedagoga Lucia Helena Pena Pereira, que ofereceu, além da base teórica, a possibilidade de criar atividades em um formato lúdico, o que caracteriza as vivências bioexpressivas. Esta união permitiu que as crianças pudessem vivenciar experiências prazerosas e com objetivos bem claros para a coordenadora da proposta, mas que, para elas eram só uma grande brincadeira. Mais adiante, vamos reproduzir algumas dessas vivências que poderão ser experienciadas em casa ou na escola, mas, primeiro, vamos entender alguns pontos importantes dessas teorias que podem ajudar muito aqueles que têm envolvimento com a formação de crianças.

A teoria das inteligências múltiplas defende a importância de estimular as crianças desde os primeiros anos a conhecer suas habilidades, seus pontos fortes e pontos fracos com o objetivo de seguir melhorando as habilidades, mas também de aprender a “trabalhar” as debilidades, aqueles pontos que precisam ser mais cuidados. Goleman defende a importância de adquirir durante e desde os primeiros anos do desenvolvimento as habilidades que estão associadas aos cinco pilares da Inteligência Emocional: a) autoestima (autoconceito), b) autocontrole; c) automotivação; d) empatia (capacidade de compreender o sentimento ou reação da outra pessoa imaginando-se na mesma situação) ; e) habilidades sociais.

P1020621A Bioexpressão completa o trabalho trazendo a forma de trabalhar através da corporeidade, integrando pensamentos, sentimentos e ações, e proporcionando a relação das crianças com o espaço e os amiguinhos, e também orientando-os no uso dos materiais a serem usados. A prática bioexpressiva trabalha com cinco focos: o trabalho corporal expressivo, as vivências lúdicas e artísticas, a respiração, o relaxamento e a ampliação da percepção sensorial. Estes focos foram trabalhados em artigos anteriores, quando se falou da importância desses aspectos para o desenvolvimento equilibrado dos nossos pequenos (e também dos adultos).

tampa ouvidosA teoria das inteligências múltiplas traz uma visão diferenciada de considerar as habilidades cognitivas. Uma criança que não tem maior competência em cálculos pode ter uma maior habilidade linguística ou musical, o que não significa ser mais ou menos inteligente. Quando se pensa em educação emocional, é importante considerar duas formas de inteligência entre outras que foram propostas por Gardner: inteligências intrapessoal e interpessoal. O psicólogo define a inteligência intrapessoal como a capacidade de construir uma imagem real, exata e verdadeira de si mesmo, e de ser capaz de usar essa imagem de forma eficaz. É ter a capacidade de discriminar as próprias emoções, dar nome a elas e saber usá-las para orientar decisões. É uma forma de inteligência que se relaciona à capacidade de se autoperceber e de desenvolver o autoconhecimento.a inteligência interpessoal é a capacidade de perceber, valorizar e trabalhar com as intenções e motivações de outras pessoas.

Tanto Gardner quanto Goleman defendem a necessidade de estimular a aquisição das habilidades que compõem ambas as inteligências – a intrapessoal e a interpessoal. Estas inteligências foram melhor explicadas ao serem divididas em habilidades ou competências, um trabalho realizado por estudiosos posteriores a Gardner. E são elas: a) identificar as emoções no momento em que são sentidas (considerada a pedra angular da Inteligência Emocional); b) capacidade de controlar-se (autocontrole); c) capacidade de motivar a si mesmo (automotivação); d) reconhecimento das emoções das outras pessoas; e) controle das relações (a capacidade de se relacionar adequadamente com outras pessoas).

Como podemos observar, essas competências exigem um trabalho contínuo e sensível, mas podem propiciar qualidade de vida bem maior a quem as possui – crianças ou adultos. Um dos resultados obtidos na pesquisa realizada aponta a importância do trabalho lúdico direcionado para a educação emocional das crianças. E esta será nossa próxima postagem. Falaremos da experiência vivida e de algumas atividades utilizadas. Até lá e grande abraço!

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Fotos retiradas da web e de arquivo pessoal.